Questão de Geografia
Comparar os EUA e a China, concluindo sobre qual deles apresenta melhores condições para exercer o papel de líder hegemônico global.
Observação
A chave para responder-se a esta questão está no conhecimento de que manter a estabilidade do sistema internacional é um dos principais papéis do hegemon no contexto da ordem mundial. Logo, os aspectos das expressões do poder nacional daqueles países , os quais servirão de fatores de comparação, serão selecionados em função daqueles (aspectos) que mais contribuirão para o desempenho daquele papel.
Possíveis aspectos que poderiam ter sido selecionados: ver a aula de 25 janeiro do Curso de Apoio ao PEP 2024.
Fatores de comparação utilizados nesta solução:
– Expressão política: grau de influência sobre as estruturas hegemônicas de poder;
– Expressão econômica: poder econômico;
– Expressão psicossocial: influência cultural (grau de);
– Expressão militar: poder militar;
– Expressão científica e tecnológica: domínio de tecnologias avançadas
- INTRODUÇÃO
Os Estados Unidos da América (EUA) e a China são duas grandes potências que disputam a posição de ator hegemônico global.
Localizado na América do Norte, os EUA ocupam a posição de primeira economia do planeta e sua capacidade de atuar como ator hegemônico global vem sendo erodida nas últimas décadas, particularmente por causa da ameaça representada pelo crescimento do poder nacional da China, a qual, localizada na Ásia, posiciona-se como a segunda economia mundial. Atualmente, esses dois países disputam influência global e a supremacia na região da Ásia-Pacífico.
A hegemonia, conceitualmente, representa a capacidade de um Estado impor sua vontade e seus interesse nacionais sobre outros.
Um dos principais papéis de um líder hegemônico global relaciona-se à garantia da estabilidade do sistema internacional, seja no campo político, econômico ou militar. Para isso, as expressões do poder nacional do “hegemon” devem-lhe proporcionar tal capacidade.
A seguir, os EUA e a China serão comparados, concluindo-se sobre qual deles apresenta melhores condições para exercer o papel de ator hegemônico global (“hegemon”). Tal comparação será realizada por meio de fatores das expressões política, econômica, psicossocial, militar e científica-tecnológica desses dois países.
- DESENVOLVIMENTO
- Os EUA
As estruturas hegemônicas de poder global,hoje, são controladas pelos EUA. Seu poder nacional confere-lhe expressiva capacidade diplomática para influir nos processos decisórios no âmbito das Nações Unidas (ONU), na Organização Mundial do Comércio (OMC), no Banco Mundial, no Fundo Monetário Internacional e, também, nos organismo multilaterais inseridos na governança ambiental global. Ressalta-se que essa característica iniciou-se com a sua vitória na 2ª. Guerra Mundial (2ª. GM) e acentuou-se após o final da Guerra Fria, o que lhe confere, ainda hoje, boas condições para exercer o papel de “hegemon” global.
O poder econômico dos EUA, como primeira economia mundial, confere-lhe a vantagem de acesso a recursos econômicos abundantes, de uma invejável capacidade de inovação empresarial, empreendedorismo e de uma forte influência no comércio internacional. Ademais, o dólar desempenha um papel central no sistema financeiro internacional, sendo a principal moeda de reserva global. Como resultado, os EUA possuem condições econômicas para atuar como líder global.
A influência cultural dos EUA apresenta alcance global. Com a sua vitória na 2ª. GM, a cultura e o “american way of live” disseminou-se por todo o mundo. Ademais, a língua inglesa e a indústria de entretenimento norte-americana tornaram-se universais, o que em muito contribui para a aceitação da liderança hegemônica global dos EUA.
O poder militar norte-americano é o maior do mundo. Sua indústria de defesa é líder mundial e sua capacidade militar lhe permite o controle de rotas marítimas comerciais e estratégicas e, também, a projeção de forças em todas as regiões do planeta, o que lhe confere a possibilidade de atuar com rapidez estratégica no enfrentamento de ameaças ou crises, o que revela a sua preeminência militar global, que é uma das características primordiais de um ator hegemônico mundial.
O domínio de tecnologias avançadas é relevante marca da expressão científica e tecnológica dos EUA. Nesse ponto, as tecnologias relacionadas aos desenvolvimentos da 5G e da Inteligência Artificial conferem aos EUA vantagens estratégicas no campo da tecnologia militar, o que lhe permite uma resposta mais eficaz a ameaças globais que desafiam a estabilidade internacional. Além do mais, essas tecnologias posicionam os EUA na liderança de setores estratégicos ligados ao desenvolvimento de inovações econômicas e de pesquisas científicas, o que contribui para a influência global militar, econômica e tecnológica dos EUA, outra marca de sua supremacia mundial.
Conclui-se, parcialmente, que as expressões do Poder Nacional dos EUA conferem expressiva capacidade para esse país atuar como líder hegemônico global.
- A China e sua comparação com os EUA
Quanto ao fator estruturas hegemônicas de poder, a China começou a apresentar maior influência sobre essas estruturas após a sua admissão no Conselho de Segurança da ONU, no início da década de 1970, e, mais recentemente, já no século XXI, após o seu ingresso na OMC, o que contribuiu para a sua atual pujança econômica. Em comparação com os EUA, a China apresenta menor capacidade de influência naquelas estruturas, pois os EUA as dominam desde o final da 2ª. GM. Logo, neste quesito, os EUA apresentam melhores condições do que a China para liderar o mundo.
No que diz respeito ao poder econômico, a China transformou-se, nas últimas décadas, em um ator central na economia global e no comércio internacional, haja vista que a sua produção industrial e a sua necessidade por commodities atingem todo o planeta. Além disso, a China realiza investimentos estratégicos externos, como é o caso do projeto da “Nova Rota da Seda”. Ademais, a busca pela internacionalização do yuan fortalece a economia chinesa no plano internacional. Apesar disso, o dólar norte-americano ainda é mais atrativo e superior à moeda chinesa, sendo este um dos aspectos pelos quais os EUA possui melhores condições do que a China para a liderança hegemônica global.
No que tange à influência cultural da China no mundo, os valores confucionistas que ressaltam a harmonia e as narrativas que destacam a riqueza da longa civilização chinesa são usados por sua diplomacia, a qual vem estabelecendo centros de estudo da cultura chinesa em vários países do mundo (Institutos Confúcio). No entanto, em comparação com os EUA, a cultura, os valores democráticos e o estilo de vida norte-americano ainda são muito mais aceitos e difundidos globalmente do que os padrões culturais chineses, particularmente a língua inglesa. Logo, no aspecto cultural, os EUA superam a China como líderes mundiais.
Em relação ao poder militar chinês, este vem apresentando um crescimento considerável, graças a investimentos voltados para a modernização tecnológica de suas Forças, os quais destinam-se a fortalecer capacidades de cibersegurança, guerra eletrônica, inteligência artificial (IA), sistemas de mísseis, navios de guerra, submarinos e porta aviões. Vale notar que a China possui o maior efetivo militar do mundo, além de artefatos nucleares. Entretanto, o seu poderio militar ainda é menor ao dos EUA, cuja capacidade de projetar forças globalmente é bem maior do que a capacidade chinesa. Assim, os EUA destacam-se na hegemonia global, pois projetar forças globalmente é uma das capacidades centrais do “hegemon.
Em se tratando do domínio de tecnologias avançadas, o país asiático investe crescentemente em pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico. A China é pioneira no desenvolvimento e na implementação da tecnologia 5G. Porém, ainda está atrás dos EUA nos avanços relacionados à IA, ao desenvolvimento de semicondutores, à tecnologia espacial e à biotecnologia, capacidades tecnológicas que asseguram a liderança tecnológica mundial. Com efeito, os EUA estão mais aptos ao exercício hegemônico global do que a China.
Conclui-se, parcialmente, que a China realiza crescentes esforços para modernizar e desenvolver seu poder nacional; porém, seus recurso de poder ainda estão aquém dos EUA, o que confere a este país maior capacidade para atuar como hegemon.
- CONCLUSÃO
A competição geopolítica entre os EUA e a China, que envolve o crescimento de seus recursos de poder, aflora como um ponto central no ordenamento mundial deste início de século XXI.
Em síntese, a comparação realizada revelou que ambos os países possuem significativos recursos de poder em diferentes aspectos, desde avanços tecnológicos, capacidades econômicas e militares indo até a influência cultural; porém, os recursos de poder dos EUA estão à frente dos recursos da China, o que aponta os norte-americanos como os mais aptos ao papel de “hegemon” global.
Assim conclui-se pelas razões pelas quais os EUA apresentam as melhore condições para o papel de líder mundial. Em primeiro lugar, a competência dos EUA para pacificar crises internacionais, sejam guerras ou dificuldade econômicas – o que, aliás, é um papel primordial do hegemon – é maior do que a competência da China, haja vista a capacidade norte-americana de projetar poder militar global e a prevalência do dólar na ordem econômica mundial.
Ademais, a influência cultural dos EUA é maior do que a influência chinesa, o que em muito contribui para legitimar a autoridade hegemônica norte-americana.
Além disso, os EUA influenciam sobremaneira os principais processos decisórios multilaterais e os regimes internacionais definidores da ordem mundial, sejam nos campos da segurança internacional, do meio ambiente, do político ou do econômico. Destaca-se que esse poder de influência a China ainda não possui. Por fim, a comparação realizada mostrou que enquanto os EUA já apresentam sua posição hegemônica reconhecida pela comunidade internacional, a China também possui condições de almejar uma posição de proeminência hegemônica global, graças ao crescente desenvolvimento de seu poder nacional.